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Arquitetos: A.P.Amieva, Estudio BNAA
- Área: 58 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Juan Cruz Paredes, Victor Criado Pinto, Arias
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Fabricantes: Cosentino, Artifice, EGGER

Descrição enviada pela equipe de projeto. Na era pós-Covid, a moradia enfrenta uma necessária e profunda redefinição. Este projeto propõe uma reinterpretação contemporânea do arquétipo do celeiro, concebido como uma estrutura periférica, versátil e adaptável, capaz de responder a múltiplas formas de habitar. Mais do que uma tipologia fechada, trata-se de um sistema aberto que questiona os modelos habitacionais tradicionais.

Diante da obsolescência da “tipologia” como ferramenta projetual, propomos abandonar as hierarquias espaciais em favor de uma linguagem modular e flexível. A moradia já não é uma soma de funções fixas, mas um campo de possibilidades transformáveis, ativadas pelo usuário. A partir dessa perspectiva, projetamos um dispositivo que articula múltiplas camadas de uso, capaz de evoluir com o tempo e se adaptar a diferentes contextos.


O projeto baseia-se em uma grelha estrutural regular e um sistema construtivo de peças industriais pré-fabricadas de baixo custo. Utilizam-se perfis IPN de 140 mm com múltiplas funções: estrutura (vigas e pilares), suporte elétrico (para luminárias), suporte de divisões (por meio de cortinas imantadas) e complemento habitável (para pendurar redes, vasos ou outros elementos). Essa estrutura visível transforma-se em uma linguagem clara, expressiva e funcional.

São incorporados sistemas de separação móveis – cortinas suspensas por ímãs calibrados conforme o peso e a tração – que permitem configurar o espaço sem perfurações. Isso possibilita um uso dinâmico e personalizado do interior, sem renunciar à ordem nem à economia material.

A moradia inclui um núcleo úmido central compacto, sobre o qual se desenvolve um mezanino acessível: um espaço introspectivo, sem janelas, iluminado indiretamente pelo nível inferior, ideal para descansar ou estudar. Otimizam-se não apenas os metros quadrados, mas também os metros cúbicos, gerando uma ocupação tridimensional do espaço.



A expansão é prevista desde a origem. As aberturas ao sul, do tamanho de uma porta padrão, permitem desmontar partes do invólucro para continuar com a modulação de crescimento, respeitando a linguagem arquitetônica inicial. O sistema admite diversas opções de ampliação, mantendo a lógica construtiva e estrutural da grelha.

O desempenho térmico é resolvido com estratégias passivas: uma galeria voltada para o norte regula a radiação solar, e é possível criar uma armadilha térmica por meio de cortinas móveis, aumentando o conforto conforme as estações.

Esta proposta não apresenta um objeto acabado, mas uma estratégia inacabada, aberta à apropriação, modificação e ampliação. Defendemos uma arquitetura com linguagem comum, atemporal e universal, que recorre à economia de meios como estímulo criativo. Dentro de uma ordem restritiva, alcança-se uma flexibilidade espacial máxima: uma moradia pensada como sistema, não como produto; como processo, não como tipologia.
