“Um banheiro é um lugar onde todos são iguais, não tem rico e pobre, idoso e jovem, todos são parte da humanidade”. Essa reflexão foi compartilhada por Wim Wenders, expoente do Cinema Novo Alemão e diretor do filmeDias Perfeitos (2023), ao ser questionado sobre os marcantes cenários de sua mais recente obra. Os banheiros públicos de Tóquio foram escolhidos por Wenders para construir uma narrativa que oferece profundas reflexões sobre a solidão, a simplicidade e a beleza da vida cotidiana.
A história gira em torno de Hirayama, um homem de meia-idade que trabalha como faxineiro de banheiros públicos em Tóquio. Sua vida é simples e rotineira, mas preenchida por pequenos prazeres e momentos de contemplação. Um cotidiano humilde que contrasta com as arquiteturas tecnológicas, coloridas e inovadoras dos banheiros públicos nos quais o protagonista passa o dia limpando.
Plastic Island. Image Courtesy of Emily-Claire Goksøyr
Enquanto lê isso, você pode notar que está cercado por vários itens feitos de plástico. Essa onipresença não é coincidência; a versatilidade do plástico o tornou adequado para uma variedade de aplicações e foi descrito por seu inventor - Leo Baekeland - como "o material de mil usos". No entanto, quando se trata de impacto ambiental, o problema está em suas próprias qualidades: é tão durável, adaptável e fácil de produzir (430 milhões de toneladas por ano) que, de acordo com dados da ONU, o equivalente a 2.000 caminhões de lixo cheios de plástico é despejado nos oceanos, rios e lagos todos os dias.
No ambiente construído, o plástico foi incorporado em vários materiais, produtos e sistemas de construção, contribuindo para uma crise ambiental que afeta seriamente o bem-estar de milhões de seres vivos. Diante desse problema, uma direção possível é afastar-se de seu uso. A busca por alternativas livres de plástico está marcando um caminho em direção a um futuro onde a arquitetura está progressivamente se dissociando desses materiais poluentes, promovendo soluções sustentáveis que reduzem nossa dependência dele e contribuem para preservar o meio ambiente.
https://www.archdaily.com.br/br/1016375/defendendo-uma-arquitetura-sem-plastico-solucoes-inovadoras-para-o-presente-e-o-futuroEnrique Tovar
Por décadas, nossa sociedade predominantemente adotou uma abordagem extrativista ao formular modelos para fabricação de materiais em diversas indústrias. Embora agora saibamos que esse modelo é insustentável, uma grande questão permanece: Como devemos fazer? Pode ser que ainda estejamos longe de oferecer uma resposta definitiva a esse desafio. Ainda assim, é empolgante notar que, em um contexto marcado por um horizonte global e ecológico desafiador, a comunidade arquitetônica mantém uma abordagem positiva ao buscar uma reavaliação do que fazemos e como fazemos.
Esse movimento pode estar ganhando relevância devido ao surgimento de novas gerações mais conscientes ambientalmente, como a Geração Z e Alpha. O que é certo é que estamos testemunhando o desenvolvimento de novas filosofias de produção, como materiais à base de plantas, que adotam práticas voltadas para favorecer o uso de recursos derivados de plantas, reduzir a dependência de processos extrativos e promover alternativas conscientes e sustentáveis em diversos aspectos da fabricação e produção de materiais na arquitetura.
https://www.archdaily.com.br/br/1014549/cultivando-arquitetura-um-vislumbre-de-tres-materiais-a-base-de-plantasEnrique Tovar
Arquitetura, entendida como um produto cultural, é fortemente influenciada por diversos estímulos que incluem aspectos históricos, geográficos e culturais, entre outros. Juntos, esses elementos formam um patrimônio que pode (ou não) perdurar ao longo do tempo. Embora a arquitetura tenda a se adaptar a cada cultura, modelando suas técnicas tradicionais de acordo com seu contexto e moldando o ambiente circundante, não há garantia de que os elementos tradicionais nela irão permanecer inalterados ao longo do tempo. Isso se deve em grande parte à constante evolução da sociedade e da tecnologia, que às vezes tende para a universalidade e a adoção de uma linguagem comum, em vez de uma própria.
Dado esse cenário, é essencial explorar uma abordagem onde a inovação e a tecnologia não substituam a tradição e a produção artesanal; em vez disso, elas surgem como um meio de exploração em direção a rotas emergentes. A adoção de técnicas novas e materiais inovadores adaptados às necessidades locais específicas torna possível manter uma expressão autêntica que responda às demandas do ambiente. Essa abordagem, que poderia ser chamada de neo-artesanal, permite a preservação de uma voz distinta que reflete a autenticidade do contexto local. Ao mesmo tempo, contribui para uma perspectiva universal, mesclando o local com o global.
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Os avanços na tecnologia de impressão 3D estão progredindo num ritmo sem precedentes, acompanhados pelo aumento na capacidade computacional para manipular e criar geometrias complexas. Essa sinergia oferece aos arquitetos um alto grau de liberdade artística em relação às texturas que podem ser geradas, graças à alta resolução e à capacidade de fabricação rápida. Se as dificuldades técnicas inerentes à produção estivessem fora de questão e os arquitetos pudessem esculpir virtualmente qualquer coisa em uma fachada, o que eles fariam?
Image created using AI under the prompt: An emotive and detailed illustration of the texture of various types of architectural insulation. Image via DALL.E 2
Embora mais relacionada a aspectos evolutivos do que à própria arquitetura, a fragilidade física inerente aos seres humanos tem exigido, desde os tempos pré-históricos, que protejamos nossos corpos e nossos edifícios dos elementos externos. Como exemplo, começando com as cabanas primitivas utilizadas nas primeiras formas de arquitetura doméstica, peles foram empregadas como cobertura externa para restringir o fluxo de ar e, consequentemente, regular o ambiente interior.
Posteriormente, observamos uma evolução que mostra claramente avanços nas técnicas de isolamento, passando de materiais vernaculares como o adobe até um aumento na espessura das paredes usando pedra ou tijolo, finalmente chegando às paredes de cavidade desenvolvidas no século XIX, que deixavam uma pequena câmara de ar entre uma face exterior e interior da parede. Sua posterior popularização levou à introdução de isolamento térmico entre ambas as faces, um sistema que é amplamente reconhecido e utilizado atualmente e que lançou as bases para futuros desenvolvimentos nesse campo.
https://www.archdaily.com.br/br/1010629/explorando-a-evolucao-dos-materiais-isolantes-na-arquiteturaEnrique Tovar
Materiais inovadores desempenham um papel crucial no futuro da arquitetura. Eles não só oferecem outras perspectivas sobre os modos de construir edifícios, como também apresentam soluções sustentáveis e eficientes para enfrentar desafios ambientais. Ao aproveitar as propriedades singulares desses materiais, arquitetos e designers têm buscado criar estruturas com novas linguagens visuais, ao mesmo tempo em que são ecologicamente corretas.
Como parte da nossa revisão do ano, refletimos sobre os materiais inovadores que foram destaque. Esses materiais exploraram os conceitos de reciclagem de resíduos agrícolas, adaptação de produtos à base biológica, transformação de materiais locais e descarbonização do concreto. O objetivo não foi apenas oferecer alternativas às práticas tradicionais de construção, mas também ajudar a reduzir as emissões de carbono e promover um ambiente construído mais sustentável. Neste campo dinâmico, esses materiais demonstram o potencial de revolucionar o design e a construção de edifícios em contextos diversos, abrindo caminho para um futuro mais sustentável e resiliente.
A tecnologia da Seratech, desenvolvida por Sam Draper e Barney Shanks, tem como objetivo reduzir a quantidade de dióxido de carbono liberada na construção civil. Este processo inovador utiliza sílica, um subproduto da queima de combustíveis, como um substituto do cimento convencional no concreto, contribuindo para a redução das emissões de carbono. Ao incorporar sílica, é possível diminuir em 40% a quantidade de cimento Portland necessária, o que resulta na produção de concreto com impacto de carbono negativo. Por esse avanço pioneiro, a tecnologia recebeu o Prêmio Obel 2022, em reconhecimento ao seu foco na redução das emissões associadas à construção civil.
O Prêmio Obel é tem alcance internacional e valoriza a arquitetura que contribui para o bem-estar das pessoas e do meio ambiente. A Seratech conquistou a quarta edição deste novo prêmio internacional de excelência arquitetônica, sendo precedida pelo projeto 'Living Breakwaters' da SCAPE Landscape Architecture no ano anterior. A equipe da ArchDaily teve a oportunidade de entrevistar Sam Draper, CEO da Seratech, para discutir o papel da empresa na promoção de uma indústria de construção sustentável e conhecer seus planos para expandir ainda mais seu processo inovador.
Agrivoltaic Pavilion prototype & designs in 'Sustainable Architecture & Aesthetics.' Transforming BIPVs with custom 3D-printed filters and panels for site-specific solar collection. Courtesy Sabin Design Lab at Cornell College of Architecture, Art, and Planning and the DEfECT Lab at Arizona State University. Image Courtesy of Jenny E. Sabin
Por que pesquisar e inovar em arquitetura? Em uma conversa com a arquiteta Jenny E. Sabin, mergulhamos na ligação crítica entre pesquisa e prática em arquitetura. Buscando o desenvolvimento de um novo modelo, sua equipe incorpora uma abordagem interdisciplinar que introduz conexões entre essas áreas, fomentando a colaboração tanto com cientistas quanto com engenheiros.
Observando o comportamento da natureza, o método proposto integra descobertas biológicas e matemáticas ao processo de design. Após passar por um processo de teste sistemático, essas percepções são aplicadas na fase de design generativo do projeto para criar soluções adaptativas e responsivas de materiais. Analisando suas estratégias de pesquisa e design, mostramos como ela traduz a pesquisa em prática arquitetônica.
Em uma época em que o impacto negativo da humanidade sobre o meio ambiente tem se tornado cada vez mais evidente, o conceito de rewilding (renaturalização) está surgindo como uma abordagem poderosa para a conservação e a restauração ecológica. Em consonância com a crescente atenção dada à arquitetura paisagística nos últimos anos, a ideia de remover a intervenção humana de nossos ambientes naturais para restaurar um equilíbrio estável parece oferecer uma maneira relativamente simples de corrigir erros climáticos fundamentais. Mas será que a ausência de interferência na natureza é realmente tudo o que prega o rewilding? Como ele se relaciona com a arquitetura e o design? Neste artigo, analisamos seus principais conceitos, aplicações e exemplos.
A materialidade é um fator determinante para moldar o caráter e a experiência de um edifício. Brincando com as qualidades estéticas e táteis dos materiais, o processo de design abrange sua análise, seleção e arranjo para criar espaços com propósito e ricos sensorialmente. Juntamente com texturas e padrões, explorar a materialidade também envolve o estudo das possibilidades de cores. O papel versátil da cor nos materiais arquitetônicos se estende além da mera estética, pois pode ampliar oportunidades de design e influenciar respostas emocionais, funcionalidade, relevância cultural e desempenho ambiental.
Embora cada material tenha sua cor inerente distinta, a adição de pigmentos artificiais ou naturais pode modificá-los em favor da identidade do projeto. Mergulhando no debate sobre a manutenção da estética crua ou a alteração dos tons naturais de um material, mostramos vários projetos para estudar as diferenças entre o uso de pigmentação natural versus artificial de vidro, concreto, tijolo, pedra e madeira.
Ainda que os experimentos e observações de Isaac Newton tenham levado ao desenvolvimento da roda de cores durante o século 17, sua revolução na compreensão e aplicação das cores continua a influenciar a criação de projetos de arquitetura e design até hoje. Arranjando-as em um formato circular, Newton mapeou o espectro de cores, que é uma representação visual de como cada uma se relaciona com as outras. A roda de cores tornou-se uma ferramenta fundamental para artistas, arquitetos e designers entenderem as relações e, portanto, criarem paletas atraentes para os projetos. Além de apenas "observar" as combinações de cores, aplicar a teoria da cor com base nas relações geométricas na roda de cores ajuda os designers a determinar quais cores são adequadas juntas. Cores têm a capacidade de brincar com a percepção espacial, criar um senso de atmosfera e evocar respostas emocionais, tornando-se essencial para o design.
Ao explorar as múltiplas possibilidades da roda de cores, criamos um guia para melhorar o design arquitetônico por meio de três combinações de cores: monocromáticos, análogos e complementares.
Criado por uma série de linhas paralelas anguladas que formam um ziguezague hipnotizante, o padrão espinha de peixe resistiu ao teste do tempo e permanece presente em diversos estilos de design. Nomeado em homenagem à semelhança com os ossos de um peixe - como o arenque, por exemplo -, este padrão clássico em forma de V arranja blocos retangulares em diferentes proporções. Com proporções de comprimento de borda de bloco variando, como 2:1 ou às vezes 3:1, o design versátil se adapta a uma ampla gama de usos, dimensões e materiais.
A disposição dos blocos, mesmo quando usados em cores únicas, cria uma textura sutil e adiciona interesse visual. Embora a disposição em espinha de peixe possa parecer simples à primeira vista, a forte qualidade direcional das linhas com ângulo típico de 45 graus requer um cuidadoso processo de design para um visual perfeito e consistente. O padrão pode ser encontrado em paredes e pisos, de tecidos a madeira e azulejos. Ao brincar com formas geométricas, ele continua sendo uma tendência que infunde estilo e estrutura no design de interiores, complementando a estética geral do espaço. Abaixo, mergulhamos no catálogo do Architonic para apresentar diferentes maneiras de aplicá-lo, explorando padrões de espinha de peixe em cerâmica, madeira e sintéticos.
O escritório BIG fez uma parceria com a marca de roupas Vollebak para criar uma proposta de ilha autossuficiente desconectada das redes de abastecimento de energia e água no Canadá. A Ilha Vollebak abrigará vários pavilhões construídos com materiais naturais e inovadores, como algas marinhas, concreto de cânhamo e concreto impresso em 3D, abastecidos por energia neutra em carbono. A ilha, localizada no porto de Jeddore, na Nova Escócia, será leiloada no Sotheby's Concierge a partir de 8 de junho. Os interessados disputarão a chance de serem donos da ilha e obterem direitos exclusivos sobre o projeto, incluindo a permissão de construí-los.
Como as casas contemporâneas têm empurrado os limites da inovação para o futuro? Atualmente, estes espaços tendem a ter linhas limpas, cores neutras e espaços flexíveis, com a integração de recursos tecnológicos e automatização. Mas mesmo havendo certas características atemporais que definem os interiores contemporâneos neutros, podemos começar a identificar tendências futuras analisando projetos arquitetônicos que diferem do tradicional, reconhecendo materiais e acabamentos disruptivos para interiores guiados pelos avanços tecnológicos que estão a moldar casas complexas e em constante mudança do futuro. A seleção destes materiais inovadores transmite um processo de decisão meticuloso na construção da estrutura e identidade de um espaço. Dependendo do contexto e tipologia, há uma crescente consciência de como os materiais afetam um ambiente, e como novas tecnologias estão a criar soluções inteligentes que podem mitigar os seus efeitos nos interiores.
A inteligência artificial (IA) vem desempenhando um papel fundamental na visualização dos interiores das casas do futuro, e juntamente com a exploração de materiais biofílicos, inteligentes e impressos em 3D, tem estimulado novas formas de abordar como vamos viver no interior no futuro.
Com uma alta proporção de branco misturado a uma pequena quantidade de pigmentos coloridos, as cores pastéis fornecem uma variedade de tons pálidos e moderados. Relacionados a ambientes suaves e calmantes, essas cores têm uma qualidade atemporal e podem ser vistas em diferentes estilos arquitetônicos, como o Rococó, o Art Déco ou mid-century. Aplicado em exteriores, interiores ou ambos, os tons pastel fazem com que os cômodos pareçam mais leves, arejados e espaçosos.
Desde detalhes sutis até se destacar na estratégia geral de um projeto, tons pastéis são alternativas versáteis que podem ser usadas de várias maneiras. Seguindo as propostas de cores de Ricardo Bofill, interiores de Paulo Mendes da Rocha e os edifícios de Michael Graves, a arquitetura contemporânea brinca com cores suaves para fins estéticos e funcionais, além de proporcionar uma experiência sensorial. Analisando diferentes exemplos de sua aplicação em arquitetura e design, mostramos como quatro cores predominantes - verde-menta, rosa claro, amarelo limão e azul bebê - estão atualmente ganhando protagonismo.
Imagem de Martin Pretorius e Raphael Trischler. Desafio Habitação Acessível da Buildner San Francisco. Imagem Cortesia de Buildner
Viver em um mundo cercado pelo constante surgimento de novos desafios exige adaptabilidade, resiliência e aprendizado contínuo. Em resposta, os concursos de projeto encorajam arquitetos a pensarem fora da caixa para criar soluções inovadoras. Seja para projetos experimentais ou práticos, esses concursos oferecem uma plataforma colaborativa para promover inovação e criatividade na solução de desafios contemporâneos. Esse é o caso da Buildner, que desenvolve um espaço para concursos de arquitetura abertos para descobrir novas possibilidades arquitetônicas.
Os concursos de arquitetura da Buildner são uma ferramenta para impulsionar o progresso ao fomentar ideias revolucionárias que promovam a discussão de tópicos críticos como habitação acessível, sustentabilidade e arquitetura em pequena escala. São fundamentais para enfrentar desafios globais. Esses concursos visam inspirar a próxima geração de designers a desafiar o status quo.
Acoustic Divider Vario / Création Baumann. Image Courtesy of Création Baumann
Além de seu destaque no mundo da moda, os tecidos também podem ser uma parte essencial das possibilidades criativas de um design de interiores. Ao melhorar o apelo estético de um espaço, esses materiais versáteis - feitos de fibras ou fios que foram entrelaçados, tricotados ou unidos - também fornecem funcionalidades ao espaço. Como parte de uma estratégia arquitetônica holística, esses elementos naturais e sintéticos são essenciais para projetar estofados para móveis, cortinas, divisórias e revestir paredes. As mais recentes inovações de design vêm explorando propriedades que levam o uso de tecidos um passo adiante. Mergulhando no catálogo de tecidos do Architonic, analisamos diferentes produtos com propriedades acústicas, à prova de fogo e repelentes.